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                  VIAGENS  DE ANTONIO MIRANDA PELO MUNDO 
                    CUZCO - PERU  
                    12-10-2006 
                    
                  A  cidade imperial de Cuzco está a incríveis 3.300 m de altitude, no topo do  mundo.  
                    Existem cidades mais altas, entre elas La Paz (na Bolívia), mas já é bastante  para sentir-se a sensação de sorozo. 
                    O ar limpo e leve, o coração fica mais lento. 
                    Leva-se um tempo para adaptar-se. Por isso, como o voo chegou muito cedo, às 8  da manhã, e o primeiro passeio é depois do almoço, recordam que se descanse por  um par de horas, depois tomar um chá de folhas de coca. 
                    Pode ser que seja um pouco folclore, tudo isso. Mas já estive em condições  precárias depois de subir rapidamente uma ladeira de La Paz, na Bolívia. Tive  que deitar-me um tempo, quase desfalecido de minhas forças, apesar de minha  juventude naquele tempo. Uma sensação muito desagradável. 
                    Em outra oportunidade, no trem que vinha de Arequipa, senti um frio terrível,  acrescido o efeito com a diferença de pressão atmosférica. Um índio socorreu-me  com umas folhas de coca, que eu mastiguei até recuperar-me. Perde-se o frio e a  fome. 
                    
                  
                    
                      
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                  Foto:  wikipedia 
                     
                    Vê-se que Cuzco cresceu muito nos últimos anos. Por aqui andei nos anos 60 e 70  e de lá para cá a cidade multiplicou-se. Já não há mais o trem para o público  local. A empresa ferroviária foi adquirida pelos ingleses, modernizaram seus  serviços, agora exclusivamente pra os turistas.  Os preços ficaram excessivamente caros para os  nativos, acessíveis apenas para quem ganha em dólares. [Mesmo sendo o dólar a  moeda que mais circula na cidade, os salários são em soles e os padrões de vida  são incompatíveis entre os índios e os turistas.] 
                    De fato, a diferença é enorme! 
                    Comemos (Nildo e eu) em um estabelecimento do centro de Cuzco.  
                    Havíamos sido instruídos a andar devagar e a comer algo leve — uma sopa, por  exemplo. O local era frequentado por operários. Serviram-nos pratos de sopa  (deliciosa, delicada), depois uma espécie de “pf” com peixe frito, salada,  arroz e batata, com um molho (opcional) apimentado, com duas garrafas de  refrigerante. Tudo por 9 soles, menos de 3 dólares. A mesma comida, com um  pouco mais de sofisticação no serviço, certamente custaria dez vezes para os  turistas. 
   
                    O sol muito quente e incisivo nestas alturas. 
                    O centro histórico é uma preciosidade. Ficamos instalados numa das “casonas”  antigas, com estrutura de madeira e “adobe” (tijolo grande de argila, seco ou  cozido ao sol, às vezes acrescido de palha ou capim, para torná-lo mais  resistente). O peso rangia no nosso passo. A água muito gelada na pia dos  banheiros. 
                    Alguns edifícios coloniais estão em ruínas. Um deles, dos mais precisos, está  escorado e ameaça desabar, inclinando-se sob o peso dos anos e do abandono. 
                      
                  
                    
                      
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                  sacsayhuaman  fotos 
                     
                    SACSAWAMAN1 
   
                      Demasiado para um dia só... A excursão começou antes das 2 da tarde e terminou  depois das 7 da noite.  Foram tantas as  paradas, tantos os recorridos, tantas subidas e descidas... 
                      Três dias completos, regressando na manhã do quarto dia. Acordando sempre de  madrugada. Não fosse a espetacularidade dos passeios, não valeria a pena tanto  cansaço e esforço. 
                      Interessante, mais que isso, fascinante o confronto da cultura espanhola  barroca com o legado incásico. Lado a lado, justapostos, superpostos.  
                      As igrejas foram edificadas sobre as ruinas de templos “indígenas” e ainda  conservam partes das construções primevas. Uns templos dentro de outros, em  confronto de civilizações.  
                      O que mais impressiona é ver a religiosidade dos nativos, mais católicos do que  os espanhóis atuais. Assimilaram o cristianismo de uma forma tão profunda que  agora é parte de sua própria identidade. Reclamam a destruição de sua  civilização, mas não renegam os valores de sua colonização. Estranha forma de  defender a tradição e a cultura. 
                      Muitas das pedras da Catedral devem ter sido transladada do desmonte de Sacsahuaman.  Falam quéchua entre eles e rezam em castelhano, numa aculturação híbrida, de  estranha combinação.  
   
   
                  1 “Sacsayhuamán é um dos  edifícios mais incríveis do mundo. Pensa-se que começou a ser  construído durante o governo de Inca Pachacutec no século XV. Acredita-Se que  mais de 20 mil homens extraíram as pedras das pedreiras vizinhas, e a  transportaram 20 quilômetros até a colina da cidade de Cusco. Hoje,  estima-se que Sacsayhuaman conserva apenas 40 por cento de sua antiga estrutura.  Mesmo assim, o site possui estruturas de até 125 toneladas de peso. Como os  Incas construíram Sacsayhuaman com estruturas de um peso e tamanho improváveis para  o tempo? Muitas perguntas ainda são um  mistério.  Aí reside a beleza deste sítio arqueológico.”  
                  
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